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Lula e Dilma fizeram muita coisa, mas é necessário fazer ainda muito mais. |
Prestes a completar 12 anos à frente do governo federal, o PT precisa pensar e agir rapidamente sobre seu legado e os desafios para o futuro, mas principalmente compreender o que está em jogo e o que é o mais importante a ser feito daqui em diante.
O governo do PT errou, tem erros?
Ora, claro. Errou assim como acertou e continua tendo erros e não são poucos, são vários!
Talvez o erro mais grave entre os demais, seja o fato de que ambos pecaram ao assistirem semi-inertes, a oposição e a imprensa neste 12 anos de governo executarem uma sistêmica e permanente onda de ataques e críticas, que acabou introjectando na mente de muita gente, o sentimento de que o governo não presta, o PT é corrupto e ponto final.
Qualquer argumento contrário a essa 'verdade absoluta' - que foi martelada por revistas, jornais e o noticiário catastrófico da TV e dos rádios, por anos a fio - é considerada por muita gente, como mera conversa de 'petralhas' e pessoas que estão recebendo alguma coisa do governo para defender 'mensaleiros'. Isso tornou-se muito frequente e um fenômeno presente em todas as classes sociais e níveis de escolaridade, identificados de norte a sul do país, por um monitoramento das redes sociais que já faço há alguns meses.
Tal como uma 'lavagem cerebral', esse discurso produzido por quadros destacados pela mídia monopolista - que ainda reina soberana no aspecto do direito a opinar livremente para milhões de brasileiros, usando para tal as concessões públicas das rádios e TVs - hoje em dia, ao contrário do que muitos intelectuais e esquerdistas imaginam, tem repercussão não só nas elites e setores com interesses escusos e ligados à oposição.
A modernização do Estado brasileiro e a maior emancipação e liberdade de atuação de órgãos de controle e fiscalização, tais como o Ministério Público, a polícia federal e a Controladoria Geral da União, fez como que houvesse um explosivo aumento no número de investigações e punições dos chamados crimes do colarinho branco, que antes nem imaginávamos poderem ser apurados, já que quem controlava estas instituições, tinham ordens de mantê-las inertes e num pacto corporativista que blindava o sistema de corrupção e desvio de condutas dos agentes públicos.
Essa mudança radical, somada à uma forte crítica de setores majoritários da grande imprensa ligada à interesses corporativos, faz com que haja uma seletividade sobre quais são os casos que viram escândalos e os que seguem engavetados pela dita formação da opinião pública.
Simultaneamente, o povão foi contaminado e padece de uma crise de identidade ao constatar que seu poder de consumo aumentou, negros e pobres agora podem ingressar em faculdades outrora elitistas e que há novas oportunidades surgindo com políticas públicas que lhe atingem diretamente, mas mesmo assim, sua qualidade de vida tem sido atrapalhada pelo aumento do tempo de chegada e saída do trabalho, que com crescimento acelerado das grandes e médias cidades que não foram preparadas para o desenvolvimento econômico da última década, agora faz com que tenhamos muito mais veículos nas mãos de quem antes só andava de ônibus, trem e metrô. Mas é claro que não é só isso que perturba e incomoda essa nova classe social.
Há ainda uma alta taxa de juros e uma contante indução do mercado para que estes setores que hoje se compreendem como sendo a nova classe média, cada dia tornem-se mais ávidos em consumir cada vez mais. Todos querem os melhores equipamentos eletrônicos (TVs, celulares, computadores, etc.) e serviços que antes só os mais afortunados poderiam ter, tais como: assinatura de Tv à cabo, viagens interestaduais, internacionais e até levar o animal de estimação para tomar banho fora, porque não? A moça da novela não faz o mesmo?
Com essa onda de consumo, o brasileiro economiza pouco e ainda é incentivado a comprar a prazo praticamente tudo que deseja, causando um endividamento constante, onde tudo que se ganha, se gasta.
Com a crise econômica mundial cada dia mais impactante sob nossas reservas, o país desacelerou e aquele ritmo de crescimento que vinhamos tendo durante o governo Lula, agora já não está mais o mesmo com a presidenta Dilma, que precisa muito mais do que medidas de alto impacto na economia e de uma boa proposta para cumprir em seu segundo mandato.
O status quo exige também que as grandes reformas que estão em debate no Congresso Nacional e na Sociedade, ganhem mais celeridade em sua concretização, tais como: A Reforma Política, a Regulamentação e aprofundamento da Democracia Participativa e do Controle Social, a Reforma do Judiciário, tema da mais alta complexidade e melindres tal como e necessária e combatida Democratização dos Meios de Comunicação no Brasil, garantindo assim, maior espaço de participação dos demais atores políticos no pensar o país com mais equilíbrio entre as forças sociais, dividindo assim em fatias justas o espaço midiático que debate, propõe e critica os desafios que a sociedade brasileira tem pela frente.
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A sociedade cobra participar mais e não é apenas o governo federal que precisa ceder mais. |
São temas difíceis e polêmicos e não se sabe até que ponto os partidos tradicionais, inclusive o PMDB, principal aliado do PT e do governo Dilma, topa romper com as regalias e comodidade em que se habituaram a viver, deste emaranhado e complexo sistema político brasileiro.
Essas sim, são as preocupações que Dilma deve ter para muito mais do que reeleger-se, dignificar e fazer valer mais um voto de confiança dos setores progressistas e da sociedade como um todo.
De nossa parte, cabe-nos a responsabilidade de sermos mais pró-ativos ao invés de apenas reclamarmos da política, do sistema e de quem nos governa. A sociedade precisar participar mais do dia-a-dia político de sua cidade, pois é nela que chegam os recursos públicos federais e assim cobrar dos vereadores, dos prefeitos, agentes do Ministério Público e da Justiça para que façam valer os salários pagos a eles e cumpram seu papel constitucional de zelar pelos bens e recursos públicos e oferecer a qualidade de vida plena em todas as áreas sociais existentes, conforme prega o Estatuto das Cidades e o pacto federativo que a legislação brasileira firmou e muitos ainda desconhecem ou fingem não querer conhecer.