Por Diógenes Brandão
Atenção: Imagens fortes.
Quando uma médica que jurou preservar a vida para obter seu diploma, aparece nas mídias sociais divulgando laudos sigilosos e outro aparece orientando o assassinato de uma ex-primeira dama, em um país dividido por classes sociais e opiniões distintas, percebemos que estamos à beira de um processo que precisa ser revertido imediatamente. A demissão é pouco para crimes como esse, com requinte revanchista e político-partidário.
Gabriela Araújo Munhoz usou do seu cargo para vazar um exame médico que deveria ser mantido em sigilo. |
E quando vemos o comportamento destes médicos percebemos o resultado da ação cotidiana dos profissionais e donos da imprensa, líderes religiosos e lideranças políticas que semeiam ódio, segregação e perseguição aos que consideram os outros mais do que diferentes: Inimigos.
Estabelecida a linha de divisão entre nós e eles, o que na democracia é perfeitamente compreensiva, a sociedade tende a debater e escolher de que lado se posicionar e não há nada de errado nisso. Posso ser contra a privatização do serviço público e defender essa posição em reuniões familiares, com colegas no trabalho ou na saída da igreja, divergindo e ouvindo aqueles que defendem a desestatização. Isso sempre foi normal, mas hoje vivenciamos um clima de extremismo e intolerância que lembra a ditadura que já sofremos neste país. (Alguns defendem que nesse tempo a vida era melhor, mais segura).
Acontece que nos últimos anos o Brasil passou a ter uma radicalização nas relações humanas, políticas e sociais, com um modus operandi perverso, fruto de um processo de manipulação e incitação à tolerância zero.
Ao nos depararmos com tal realidade, nos aproximamos de outra, que embora não seja temida por muitos que acreditam que o Brasil é um país pacífico, pode nos acordar tarde para reagirmos contra a barbárie que já nos acomete, mas tende a avançar e tornar-se predominante.
PAÍS PACÍFICO?
Que país pacífico é esse onde traficantes e assaltantes assam rivais dentro de latas de lixo, tocando fogo em seus corpos banhados de gasolina? Enquanto isso, quantos dos seus líderes seguem impunes dentro e fora da favela, onde a guerra urbana ceifa centenas de vidas todos os dias?
Que país pacífico é esse onde a pena de morte já está implantada no submundo do crime, onde cabeças e corações de adversários são arrancados e exibidos pela internet, no lucrativo mercado do crime, controlado tanto de dentro, quanto do lado de fora das cadeias?
E por falar em cadeias, as quais estão todas super-lotadas e tornaram-se máquinas de moer gente, mas que ao contrário, deveriam ser controladas por servidores públicos, que bem remunerados e supervisionados, jamais deveriam aceitar suborno para deixar entrar armas, celulares e regalias, que alguns líderes criminosos mesmo presos conseguem facilmente? Enquanto isso, quantos juízes e desembargadores corruptos gozam de luxo e proteção, com seguranças, veículos brindados e férias no estrangeiro?
Que país pacífico é esse onde pessoas que furtam um celular são amarradas em postes de iluminação e são assassinadas por diversas "pessoas de bem", depois de um linchamento cruel, lento e sanguinário?
Enquanto isso, bandidos de terno e gravata praticam desvios de bilhões de dólares na venda de estatais, obras em metrô e até a exploração lesa-pátria do Nióbio, um dos recursos minerais mais caros do mundo e curtem seus mandatos como deputados e senadores, eleitos com o poder da compra de voto. Tá certo isso?
Que país pacífico é esse em que a polícia sobe ao morro uma hora pegando propina das bocas de fumo e noutras atirando a esmo, não se importando se quem está na rua ou nas suas casas é gente de bem ou bandido? Enquanto que os barões do tráfico habitam casas luxuosas, tem escritórios de advogados e compram juízes e desembargadores a hora que bem entendem.
Que país pacífico é esse onde a polícia tira selfie com pessoas que não gostam de vermelho e vestem-se de amarelo para irem apear um governo do poder e colocar outro achando que iriam acabar com a corrupcão?
Enquanto isso, professores que reivindicam aumentos salariais e melhores condições de trabalho e estudantes que se juntam para lutar e manterem suas escolas abertas, levam bala de borracha, porrada de cassetes, bombas de gás, pimenta e efeito moral, muitas vezes cegando e ficando com sequelas pro resto de suas vidas, Tá certo isso?
Estudante Deborah Fabri ficou cega de um olho após ser atingida por estilhaço de bomba da PM de SP. |
Com algumas respostas para as perguntas acima, talvez possamos parar para refletir que já temos números de guerra, com mortes por arma de fogos e assassinatos, inclusive passionais, onde marido mata esposa e vice-versa.
O que nos resta para uma guerra civil, onde já existem elementos suficientes como o ódio pelo diferente, armas ilegais, policias despreparados, milícias enriquecendo e agindo impunimente e uma enorme quantidade de juízes corruptos que devolvem traficantes e outros criminosos todos os dias para as ruas, a custa de propina oriunda do crime e do capitalismo gerado pela venda de drogas?
O que nos resta para identificarmos que deputados e senadores, prefeitos e vereadores também são políticos e por isso responsáveis pelo que acontece e o que não acontece nas nossas vidas?
O que falta para o povo voltar a se perguntar: Que país é esse?